domingo, 12 de outubro de 2014

Nascer, Viver, Sobreviver, Morrer

Todos nós sabemos de onde viemos, isto é, que somos filhos de alguém e que nascemos desse ser, sabemos que fomos concebidos pelo nosso Pai e a nossa Mãe e que somos, ou devíamos ser, o resultado do amor e respeito deles.

Nasci numa certa tarde, a uma certa hora, num certo hémisferio e desde pequeno sempre lutei por crescer e por ser sempre melhor, com o passar dos anos a minha vida foi sofrendo alterações, a minha voz ficou rouca e apareceram as borbulhas e acne da puberdade. Nessa idade achamos que somos poderosos e que o mundo é coisa de crianças, mas por dentro vivemos aquele existencialismo que o mundo esta contra nós.

Estudamos no preparátorio, passamos ao secundário e depois vamos para a faculdade.

Toda esta preparação para um futuro, para uma profissão, para ser alguém. Toda a sociedade se prepara para isto, uns com mais empenho e com poder financeiro, outros com empenho mas sem oportunidades para passar para o universitário e ainda os que não querem fazer nenhum.

Sempre me questionei o porque de ter que ir a escola, de ter que aprender estas coisas, pois na altura nada parecia ter utilidade num futuro próximo, no entanto, percebi que algumas seriam úteis e outras não, mas isso dependeria do percurso que pretendia seguir.

Pois bem... tudo isto para aprender a "viver" diziam os meus pais...

Até que um dia algo de terrivél aconteceu, a pessoa que me deu vida e me criou, me educou e foi o leme da minha existência adoeceu. A desgraça, essa que esperamos que bata sempre a porta de outrem, bateu a minha porta... E de que maneira.

Nada do que aprendi na escola ou em casa me preparou para tal evento, para tal desgraça, para tal destino. Nunca soube bem se aquilo era um sonho ou se era a realidade e o porque de estar a acontecer com ela, fechei os meus sentimentos, contive sempre as minhas lágrimas e lutei com ela sempre, sem nunca a abandonar.

No fim... sim no fim o destino quis que ela partisse, o destino pôs um ponto final sem eu ter palavra a dizer, e tive que aprender a sobreviver.

Bati com a cabeça no fundo em desespero, penei noites a fio empapado em lágrimas e perguntando aos deuses o porque de aquilo e que mal teria eu feito...Mas não tive resposta. Eram noites e noites em branco sem saber o que fazer o como fazer, até que um dia... Olhei para o passado e pensei nas coisas maravilhosas que passei ao lado dela e como ela sempre esteve comigo a toda hora e nunca me deixou mal. Peguei nos meus cacos e levantei cabeça e disse a mim mesmo que a vida continua e por muito doloroso que fosse aquele momento, não era assim que honraria sua memoria.

Para minha sorte, nunca fui de beber, nunca fui de fumar, nunca fui seduzido por drogas e afins, sempre fui mais forte que isso, sempre a deixei orgulhosa dos meus comportamentos e atitudes e não seria agora que faria o contrário.

Peguei no meu ser e fui a luta, lutei e lutei e chorei e derramei suor e lágrimas, até sangue, mas num certo dia, encontrei a pessoa certa, no momento certo e arrisquei TUDO. Sem olhar para atrás peguei em mim e larguei o passado a procura de futuro, deixei pessoas, amigos, inimigos... e aos poucos fui conquistando o futuro.

Hoje e apesar de a ter perdido, acho que por vezes o destino é assim e prega estas partidas de mau gosto, nas quais te tira uns seres queridos e te põe outros na vida, isto para te fazer avançar no teu próprio destino, isto para te fazer crescer.

Ontem foi o dia dos cuidados paliativos, e acho que todos devem ter direito aos mesmos, isto, se esse for o seu desejo. Quando alguém sabe que vai ao encontro de um fim próximo e não existe volta, deve ter o poder de escolher como e quando por termo a sua vida de forma Humana, pois, por muito paliativo que seja o cuidado, a mente sente a dor e sente o sofrimento do seu corpo a degradar se e ainda o sofrimento dos seus familiares e seres queridos.

Meus caros, dor não é apenas física e não se resolve apenas com morfina e medicação.

Sejam a favor ou contra, o relato fica e a aprendizagem, essa continua...



1 comentário: