Tirei
o curso de treinador há 4 anos com o intuito de poder aplicar o meu
conhecimento de gestão de equipas no campo e de aplicar toda a minha paixão
pelo desporto (futebol) na formação.
A
primeira questão que me colocaram foi… como é que alguém da área da comunicação
e da programação foi parar em desporto e neste caso como treinador de futebol…
Resposta
simples, para além das competências desportivas, eu considero que um treinador
da formação deve ter as características de líder, de comunicador, de mentor, de
colega e ao mesmo tempo de disciplinador.
Uma
das coisas mais complicadas na vida da humanidade é a comunicação clara,
objetiva e onde os interlocutores devem saber qual a forma mais clara de passar
a mensagem, sem ruido, sem omissão, sem deturpação da mesma.
Ora
trabalhando na área da programação, uma das coisas mais complexas que existe é
por um programador a tentar explicar algo a um stakeholder ou mesmo ao
management que nem sempre possui o know how de como dizer algo que é complexo por palavras
simples.
O
meu estágio foi feito em Avintes, mais concretamente no F.C Avintes, onde
conheci uma fantástica equipa de U11 e jogamos futebol de 7.
Foi
uma equipa complexa pois os desequilíbrios entre os atletas eram gritantes e a
falta de organização e de qualidade era complexa de gerir.
A
equipa técnica, era constituída por mim e um colega que também estava a fazer
estágio mas que já possuía experiencia de treino. Ele sabia muito bem como
organizar os treinos e elaborar as unidades de treino no entanto, talvez por
ser muito mais novo que eu, pecava na liderança e na forma de gerir os miúdos e
por consequência os pais dos mesmos.
Fomos
“abandonados” a nossa sorte fazendo dos treinos a nossa rotina, sem feedback,
sem aconselhamento, fomos gerindo as coisas e levando uma equipa que na época
anterior tinha tido apenas derrotas a lutar por objetivos.
Foi
uma época complexa mas fizemos muito melhor que a época passada e conseguimos vitórias
construtivas depois de muito trabalho e de muitas batalhas.
Foi
o meu primeiro contacto com uma realidade que desconhecia… a estrutura de um
clube com as suas qualidades e defeitos… e o “bicho” papão dos encarregados de
educação…
No
fim a época foi positiva e graças a “nos” conseguimos criar uma base e o começo
de uma Equipa, ao meu colega pelo tipo de treino criado e a mim pela gestão dos
atletas e dos pais de forma a conseguirmos fazer o nosso trabalho.
Seguiu
a época seguinte em que estive perto de 2 meses no Panther Force em Gaia, com
uma equipa de U12B no entanto e após falar com um colega de curso consegui um convite
para ir para um clube do padrão da legua.
O
meu primeiro desafio a “solo” e bem a solo foi… Apesar da grandeza do clube,
varias coisas condicionaram a minha equipa, mais uma vez por falhas de
comunicação ou melhor pela falta de comunicação.
A
equipa foi os U11 A voltando a um escalão de 11 e com uma equipa desafiante em
todos os aspetos que se possa imaginar…
Começando
por haver equipa A e B e nesse aspeto já existir uma “competição” entre os encarregados
de educação sobre esta definição…
Depois
por ter atletas com imenso potencial, mas com egos enormes e comportamentos abomináveis
(incutidos pelos progenitores), eis um tema que condiciona muito a forma de
trabalhar de um treinador pois os atletas já vêm aos treinos com o conceito de
vedeta e tentando sempre rebaixar os colegas quando erram de forma a condicionar
o treinador e o treino.
Para
piorar isto veio o Covid e com ele os campeonatos pararam e os treinos ainda
mais condicionados ficaram. Tive que agilizar com a equipa B treinos online para
não perder atletas… Não se consegui fazer um trabalho com qualidade e foi
desmotivante não conseguir evoluir estes atletas…
Veio a segunda época e um futebol diferente
com 9 jogadores de campo. Este foi um ano decisivo em todos os aspetos para mim
e um ano de muita evolução. Perdi 2 atletas fruto de um treinador que decidiu
sair e levou meia dúzia com ele do clube… mas ganhei alguns novos atletas com
muito potencial.
Época
começou bem até o coordenador que iniciou a época ter saído passado 2 meses e
ter entrado um sujeito que deixou o clube… levou atletas de qualidade do clube….
E retornou como coordenador quando a coisa correu menos bem…
Aqui
começou uma história de como manipular, deturpar, destruir, interferir e
condicionar uma equipa que tinha tudo para o sucesso…
A
ferro e fogo foi me imposta uma lei marcial, na qual me tiravam atletas para
terem treinos em escalões acima sem sequer ser questionado, em que filmavam
partes do meu treino, fotografavam partes do meu treino e interagiam com os
meus atletas durante o treino o que causava distração…
Começaram
a surgir criticas, boatos, rumores, intrigas… mas conseguimos superar a primeira
fase do campeonato, chegando a Elite.
Apesar
das minas e armadilhas criadas conseguimos ir a Elite… e claro foi feita a
tentativa de deturpar o conseguido dizendo que tínhamos ficado numa seria mais fácil
e a equipa B numa mais complicada…
Na
Elite ficamos em 5 com equipas como SCP, Trofense, FC Porto, Infesta… mas mesmo
assim… não estava bem…
A
minha avaliação foi 2/5 pois os meus treinos não eram ricos… esqueceu-se de
referir que interferia em tudo o que eu fazia e passava mensagens erradas aos
encarregados de educação… Interferiu nas minhas convocatórias, ameaçando que se
eu não altera-se a mesma teria os dias contados no clube…
Fazia
contantes apontamentos ao presidente de situações inventadas, quando uma atleta
teve um ataque de asma e ele usou isso para dizer ao presidente que eu deixava
a atleta a margem e que não a integrava na equipa… Ação que fez o presidente
falar comigo e dizer coisas como “sabemos que é miúda e que as miúdas são mais
limitadas…” mas “somos um clube integrador e não esta a agir bem ao deixar a miúda
a margem do treino…” fiquei tão atónito que fiquei calado estupefacto a ouvir
tamanha injustiça… Valeu me o pai da atleta estar a par da situação…
Isto
para não falar de entradas no balneário para me fazer sombra… e os recados que
eram enviados ao meu adjunto que apenas serviam para criar mais instabilidade.
Foi
uma experiencia que no final (e agora que olho para atrás) me fez crescer e ter
uma perspetiva diferente da forma como são geridos os clubes, dos lobbies, das
intrigas e a forma podre como os bastidores funcionam.
Ficarei
na historia do clube seja pelo cartão branco que recebi e que o clube desconsiderou
(considerando o de outro colega), seja por ser a única equipa da academia a ter
estado na Elite, seja por ter ajudado na formação de uma equipa e ter evoluído atletas
(coisa que o clube não reconheceu), seja por fim por estar no livro do clube
numa pagina central em grande plano.
Agora
é seguir caminho e olhar para um novo desafio…
Estou
quase a findar o nível II e posso dizer que cresci muito e estou a aprender
muito, hoje sou melhor treinador que ontem e amanhã serei melhor treinador que
hoje.
Estou
num clube que acredita em mim, que me deu uma equipa a minha medida e que
confia em mim e no projeto que posso ajudar a desenvolver.
Saudade
dos “meus” miúdos estará sempre presente mas sei que os meus U14 chegaram ao
infinito e mais além pois quando uma estrutura é forte e apoia os seus
treinadores tudo se torna mais fácil.
Quanto
a mim, espero em breve fazer o meu estágio de nível II e dar mais um passo na
minha curta carreira de treinador.
O
futuro… esse é construído todos os dias, mas aprendi que para chegar ao céu
tens de passar pelo inferno primeiro.
#rumoaseleçãoperuanadefutebol